Naquele tempo o mundo flamejava em nossas mãos
e nem sabíamos, porque o mistério às vezes é simples
– o quanto pode ser simples o mistério da infância –:
o dia galopando no dorso alado do ócio todo colorido.
O tempo deslizava farfalhando o vazio do nada
e a vida não era uma indagação feroz e urgente.
(a vida era apenas o ato imperceptível de respirar):
as nuvens sempre lentas, mornas e galhofeiras.
Agora, sem motivo aparente, você vem lembrar
que já habita as tardes com a suavidade da morte
e que restou esse poema no reino do meu silêncio.