Vida, descortinar feérico a desafiar nossos limites
(carente, pendente, frágil – a poesia e o humano):
– aqui estamos estendendo as nossas cálidas mãos
a encontrar outras mãos inseguras, gélidas ou cálidas
a buscarem nossas mãos frias, vacilantes e solitárias
até que todas as mãos se tornem cálidas ao coração.
Felicidade, engenho a se reinventar na arte de viver:
viver é dançar e cada circunstância uma coreografia
que se descortina do novo e do aprender no repetir
(quando Tita dança, a esperança lampeja no milagre).
E Tita dança, dança e festeja a paciência de cada passo
aprendendo, ensinando e saboreando a vitória mínima
que em cadeia vai formando o belo mistério do existir.
Conquistas ínfimas se tornam sempre joias delicadas:
tudo flameja espanto no maravilhar das descobertas
(capacidade de experimentar de relance a plenitude).
O belo em Tita é que ela vai arejando os paradigmas
até às raízes em que o diferente encontra o humano
e nele celebra nossas deficiências desejando sonhos
– somos todos incompletos: por isso estamos aqui –
Tita não se faz escrava do tempo: ele lhe obedece
– ela sabe solver devagar a sopa e dissolver a tarde
com a mesma suavidade do deslizar das nuvens.
O mais encantador em Tita é que Tita é sempre Tita:
não há máscaras ou papeis a encenar no teatro da vida
– não há teatro: só a vida no fluir simples e colorido.
Quando você me autorizou a lhe chamar de Tita
foi como se Deus me permitisse tratá-lo por tu:
– senti um sopro de azul formando toda ternura
e o guardei comovido como se abriga o onírico.