Na rua da Estrela,
em São Luís do Maranhão,
uma enorme aranha
sobre a lata de querosene
terce vagarosamente o ócio,

alheia ao tempo
cultiva na tarde a crônica obscura da província;

no varejo – ignorando Adam Schmidt e Marx –
o quitandeiro negocia as horas em mercadorias
(sabão, sal, açúcar, aguardente, fardos de farinha
assistem os rudimentos da economia política).

Especiarias espreitam a lei da oferta e da demanda.

A aranha tece o tempo sem dele ter consciência,
sem saber que dele o quitandeiro não pode fugir.

O velho quitandeiro absorto em aromas e nuvens
vê a brisa desatada gritando azul
no dissolver da vida,
com a tarde anunciando o inevitável crepúsculo.

Toma do chinelo para esmagar a enorme aranha
pensando que assim se liberta da teia.