Era uma tarde
dessas raras,
dessas mágicas.
Era uma tarde de especial banalidade.
Caminhava como sempre àquela hora de
volta do caminho rotineiro da escola
e a cidade era a mesma no mesmo ritmo
da vida entre palmeiras, tardes e brisas.
E o mar sorvia o sol suavemente
num explícito beijo apaixonado:
uma ponta de tristeza e lamento
Em São Luís de beleza e exílio.
Naquela tarde nada havia diferente
a não ser meu passo mais urgente
em direção a um mundo encantado.
Naquela tarde a televisão mostraria
um sabugo em forma de gente –
que de tão inteligente era um sábio –
além de uma boneca que falava.
Ah, tinha também a tia Anastácia
(como se parecia com a Babá, até nos quitutes que fazia).
Tinha também Dona Benta,
o Zé Carneiro e o Saci.
Ah, eu tinha tanto medo da Cuca (…)
Aquela tarde foi tão mágica
que nem o tempo dissolvido pelo vento
dissipou o encanto em nuvens.
Santa Inês num clarão de saudade se abria
e todo meu reino era devolvido.