Entre urtigas e brisa o universo girava
e ainda não existia Freud ou a história
para me explicar do amor e do ódio
que habitam o mesmo espaço do azul.
No cine Art Palácio nas tardes de domingo
havia o artista que lutava em nome do bem
e por quem torcia entre gritos e aplausos
(o outro era o bandido feitor de todo mal):
Ah, adorava todos os filmes de faroeste
(bang bang à italiana, a alma do domingo).
O faroeste me ensinou o duplo da vida:
o bem e o mal; o amor e o ódio.
Eles eram bem apartados, inimigos ferozes
– vieram os militares e tudo se confirmou:
capitalistas do bem e comunistas do mal.
(alguém disse que se tratava da Guerra Fria
– pensava em soldados lutando no gelo)
Tal qual o mundo, tive a infância bem dividida:
— Foi bom quando meus abismos tão rasos.