MENINO JESUS

Bem poderia ter nascido Cristo lá em casa
tamanha hospitalidade em acolher o simples:
de um tocante, de um cândido tão delicado
do orvalho deslizando numa parede nua.

Mamãe armava a árvore de natal em Santa Inês
lá na rua da Raposa, nº 114, onde nada chegava:
nem cesta de natal nem cartões nem convidados.

A árvore de natal de mamãe de tanta humildade
comovia pela carência pura (que o amor é falta):
e quando ela colocava as poucas bolas coloridas
– podia ouvir as cantatas de natal de Bach –
(quando ouvi o oratório de Bach na primeira vez,
já não era a primeira vez que o ouvia, pois havia
dentro do meu coração de criança toda aquela luz,
aquele encanto, aquela mágica do sagrado).

A cada ano as bolas diminuíam, se quebravam
e mais tocante era o colorido que dali exalava
a se parecer com uma simples manjedoura.

O menino Jesus tinha nascido em Belém do Pará
assim pensava o outro menino pobre, seu irmão.

Cristo nasceu na Santa Inês da minha infância
quando o natal era a pureza do menino Jesus
tão perto de mim na sua pobreza em paz.