No dorso da manhã o pássaro acaricia a brisa,
as nuvens no quintal dançam prateadas de sol.
Em Santa Inês, reino do Vale do Pindaré,
a manhã explode
em azul
para celebrar as laicas esperanças
que sobrevivem ao festejar a vida.
A vida, essa palavra inútil que não se traduz.
A vida clara em uma folha de papel
que se lança ao destino da palavra, em vão.
Antes da palavra existia a manhã.
Não a palavra manhã,
mas o leite branco que escorria nos olhos da noite
e banhava a cidade de luz,
escandalosa luz e canto de galo:
que por ser canto já comovia
eu menino preservado na repetência
de novas manhãs, onde novos galos cantam
elegias a outros galos que cantaram outrora
auroras
que já desceram a crepúsculos.
Em papel celofane a manhã se entregava pura
tal noiva em vestido branco, buquê e esperança:
desejo inconsequente de amar
isso tudo que não se traduz:
basta saber que é abril de banal manhã brasileira,
simples manhã de abril em flor:
haste do tempo em que a vida se acalenta.