Nunca escrevi um verso para minha mãe,
porque ela me deu todos os poemas:
inclusive os que nunca li nem consegui escrever.
Num dia da minha infância, mãe olhou pro céu e disse:
─ Sabe por que o céu é azul?
Pra colorir a nossa vida em preto e branco.
Menino treloso que era,
percebi que ela guardava cacarecos:
copos quebrados, páginas soltas, roupas manchadas,
tocos de velas da primeira comunhão dos filhos.
─ Por quê, mãe?
─ A vida se faz aos pedaços, filho.
Como se vê, aprendi com ela lírica e hermenêutica
para me espantar ante o despedaçar da vida.