Engenheiro Couto Fernandes,
arremedo de rua: seis casas e meu mundo
e o velho casario encobrindo a lua.
Tantos sonhos por lá ficaram dormindo
─ que é próprio dos sonhos dormir ─
Nunca se sonha completamente acordado:
e agora que volto a esta esquina
tanto anos depois os reencontro,
muito embora tantos desistiram
e morreram dormindo como anjos:
não suportaram tanto sol,
tanta vida perdida no burburinho dos dias.
Olho em volta, os vizinhos são outros:
novos sonhos dormem em outras vidas,
que a vida é uma invenção fascinante,
mesmo quando os sonhos morrem,
resultam ressuscitar em outros olhos.
Paro diante do casario: a mesma porta,
o mesmo batente em que pisei, pisei
gastando os sapatos e a brisa distraída.
É hora de ir, de voltar, de seguir:
os compromissos, o relógio, a vida.
Ainda comovido, volto a caminhar:
mas impossível andar nesta esquina
sem sentir o coice do tempo no peito
que se dissolve no ar tal um suspiro.