O que perece flutua no eterno onde faz silêncio
e por isso quem morre
é teu vizinho indiferente,
o parente muito distante:
um homem desconhecido que morava no Méier
(que antes de morrer, matou a mulher e o amante
é só uma notícia de jornal tão distante de tua vida)
A morte, um fantasma que habita nos outros,
parece impermeável ao sorriso dos jovens
lambuzados em algazarras e vida em festa.
Nos teus olhos só havia versos, manhãs, encantamento,
então deduzi que tínhamos todo o tempo do mundo
e por isso não me apressei em colocar as minhas mãos
sobre teus ombros
e dizer olhando nos teus olhos:
─ Todas as coisas que giram em tua volta
como o azul e o verão de repente se calam
e ficam esses retratos nas estantes
rebentando em soluços.