Liberdade e angústia, pautas do gênio
que se agarrou à arte para dizer a vida
(para não saltar dela antes de saciado
e deixar a ela o quanto pode o existir):
o ardor do humano em se fazer luz
em meio às trevas que dissolvem o sol.
Tomar o ser dos abismos mais densos
e fazer cintilar a poesia nas entranhas
revirando tortura em beleza e verdade:
tudo nele foi busca e renúncia;
vida pulsando o âmago da arte.
A música, arte que traduz todas as línguas,
disse em Beethoven que a verdade indaga
ao tempo que pacifica todas as angústias:
todo ele se fez cúmplice da fragilidade.
Mas nele a fragilidade deixou esse legado:
o artista, na essência derradeira, é sua arte
e nela deve desnudar sua alma inteira
ao tempo que diz do outro no mundo.
Por isso se ouve Beethoven e não música:
há nela seu sangue, as dores mais secretas,
a vida por um fio a desistir da caminhada;
todo o colorido e as sombras do espírito.
O sublime da vida é ofertar o que falta:
a surdez que entrega o som em beleza
(faminto que divide o pão com alegria)
é o limite último do humano e da arte.