Em criança, descobri na pólvora o azul
na Santa Inês dos crimes de encomenda.
(tantos homicídios, tantos pistoleiros)
Naquele tempo não sabia do homicídio
(sabia da morte matada e da morrida).
Um dia vi a pólvora – era brilhante.
(disseram que dela se fazia balas
– que depois soube ser munição)
Mas a pólvora era azul!
(constatei num espanto)
E era com aquele azul brilhante
que se matava as pessoas todas?
Nos meus olhos toda a pólvora dissipou:
ficou aquele azul deslumbrado nos olhos.
O azul da pólvora poesia ainda não era,
mas indício de que a vida estava além
do crime e sofrimento:
o azul da pólvora no luzir do dia, uma magia
a detonar partículas do que não se via.
Da pólvora não guardei memória,
já aquele azul cintilou no eterno.