Hoje me dispus a um desejo muito antigo:
deixar a tarde se desmanchar sem interferir
(a tarde com seu tamanho real,
tomar as horas pelo sol).
Deitar o corpo na rede estendida ao gosto da preguiça,
saber dos medievais a beleza do sistema heliocêntrico:
o sol devagar girando e aos poucos, distraído,
mergulhando dentro da terra,
que eu menino imaginava um mundo abissal,
onde o sol despencava até cair nas mãos de Deus,
que o devolvia à terra no seu trabalho de Sísifo.
A tarde vai morna e devagar, esvaindo gota a gota,
saboreando o tempo que os homens desperdiçam
entre guerras, bares e adultérios.