Na ancestralidade repousa a essência em quietude
– tudo está ali pacificado em estado de natureza –
não há angústia no primeiro olhar diante do mundo:
um deslumbrar macio e puro se desata lentamente.
Diante de meus olhos todo o quintal estava por dizer
– e pouco importa se meus ancestrais já o disseram –
o poço, por exemplo, não era mais o lugar donde água,
agora o abismo que habitava minha alma em mistério:
o espelho que me devolvia toda a angústia metafísica.
Se aquelas tardes se dissolveram por igual aos ancestrais
em mim era revolver do sopro sobre partículas invisíveis.
É na linguagem que toda inquietação se inaugura
e nesse reino jamais haverá paz durante a vida:
por isso todo alvoroço do quintal me acompanha
sempre revolvendo outras sinestesias incompletas
da ancestral infância entranhada de espantos.