Não peço que não me esqueças,
seria pedir demais – demasiado:

peço que não esqueças de lembrar
que não te esqueci ou esquecerei:
lembrar é sempre desatar sem fim
é misturar os tempos e os mundos,
eterno que habita no inconsciente

que flana, voa e não pousa nunca –
deseja colorir carências e verdades,
pois a vida necessita do incompleto:

por isso lembro de não te esquecer
(a falta me lembra que estás comigo)
e se tu não te esqueceres de lembrar
de que eu não consigo te esquecer
– tempos e mundos se preservam –
(ao tempo que dissolvem tantos mitos):
nada impede que nos demos às mãos
em outro sentimento a descobrir:

o pássaro azul que voa já tão distante
foi, antes, lembrança ou esquecimento,
– cintilou num instante o firmamento.

E o cintilar além do espaço e do tempo
não é mais lembrança nem esquecimento
é o comungar de vidas em pensamento
e o celebrar de espíritos diante da luz.