Toda essa costa sinuosa dessa negra sensual
bem se acopla ao litoral da América do Sul,
não fosse a solidão do Atlântico de permeio
em dores dilaceradas de nações inteiras.
Nem o ouro de Gana, todo Bilad al-Sudan
e o império do Mali (do deserto ao oceano)
valeria desafiar o mar tenebroso e monstros
fazendo tremer toda descendência lusitana.
Mas devia existir a outra margem do Atlântico,
perdidos domínios africanos no novo mundo
– onde certamente ouro se ofertaria ao raso –
ademais com a fenda desumana da escravidão.
E uma lição toda África sabia e mais aprendeu:
todo ouro do mundo se compra com muito sal
e toda história é contada por aquele que venceu:
Ah!, mar salgado de Portugal, quanto do teu sal
são lágrimas d’África derramadas em três séculos
desde Moçambique até teu lado ocidental?