a Alexandre Lago
Era uma noite fria e muito escura (…) os poetas resolveram fazer uma fogueira (…) Homero trouxe o maior carregamento de madeira (…) Virgílio observou demorado as toras vindas da Grécia (…) Dante se comprometeu com o fogo (…) Shakespeare reorganizou a disposição da madeira de um modo muito peculiar (…) Camões imaginou a fogueira iluminando o novo mundo (…) Fernando Pessoa queria a fogueira em três dimensões e percebeu que o trabalho de Shakespeare o satisfez (…) Baudelaire e Walt Whitman aguardavam ansiosos pelo fogo: arder é todo o belo da vida (…)Emily Dickinson se aproximou sem ser notada naquele universo todo masculino (…) conversando sobre o ritmo na poesia chegaram Ezra Pound e Eliot (…) admirado, Octavio Paz disse que a palavra fogueira lança símbolos em chamas (…) nisso Mallarmé sorriu (…) Borges não viu a fogueira, mas imaginou como nenhum outro todas as suas possibilidades (…) de longe, arredio estava Drummond (…) Rimbaud jogou gasolina e gritou: — Agora, Dante! (…) o fogo foi lançado, a lua cheia e as estrelas surgiram a desafiar todos os adjetivos (…) um homem comum e curioso de olhos brilhantes no sonho sentou e todos o acompanharam formando um semicírculo ao redor da fogueira (…) Homero iniciou: “Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida”(…) e reza a lenda que a fogueira continuou ardendo para além das mil e uma noites.