QUESTÃO PREJUDICIAL Para se entender as mulheres faz-se necessário estudar a brisa e os terremotos. PORNOGRAFIA POÉTICA LUSITANA É tão pornográfico que quando pronuncia a palavra fado, imagina as vogais a dançar. NO FIM DO TÚNEL Nos porões de minha alma, há abismos insondáveis, onde um vaga-lume pisca, pisca, desesperadamente pisca sem direção e só a poesia pode salvá-lo. O […]
Ler maisa Lourival Serejo Apenas eu e bia na sala do cinema em Teresina (sábado,17 de agosto de 2024, sessão das 22 h). O filme? O Mensageiro, direção de Lúcia Murat: um drama ambientado em 1969, época do AI-5. Apenas um filme brasileiro ignorado pela mídia (nada de novo: só o Brasil indiferente ao Brasil). Fiquei comovido na presença das […]
Ler maisNa rua da Estrela, em São Luís do Maranhão, uma enorme aranha sobre a lata de querosene terce vagarosamente o ócio, alheia ao tempo cultiva na tarde a crônica obscura da província; no varejo – ignorando Adam Schmidt e Marx – o quitandeiro negocia as horas em mercadorias (sabão, sal, açúcar, aguardente, fardos de farinha assistem os rudimentos da economia […]
Ler maisPor sobre a cidade, em plena segunda-feira, o arco-íris sorri entre despojado e irônico, observando a vida cá embaixo: ônibus, buzinas, semáforos, esquadrinham o caos em meio à pressa e à angústia. O que se tem por vida, ao arco-íris lembra a morte lenta e indiferente da beleza (há tantos corpos vagando no vazio). A vida toda de adjetivos descartáveis […]
Ler maisNão, a vida não é movimento uniforme: seda, brisa, delicadezas, cristal e beleza – A vida é. E talvez agora tenha dito tudo: total imperativo em estado de natureza. A vida é coice, desconcerto, desencanto – artimanhas do acaso, desmantelo da lógica, um facho descontrolado em busca do ser vazado de dúvidas e perguntas em aberto, o humano lançado objeto […]
Ler maisTRADUTOR DOS POETAS O cantar solitário do galo traduz a angústia e esperança dos poetas. CALENDÁRIOS Os calendários tentam confundir o tempo (…) em vão. ESPANTO DA PLACIDEZ (…) as nuvens vivem entre a placidez e o espanto (…) DELIVERY Na janela as nuvens me trazem surpresas ao correr do dia. MIRAGEM Sem simpatia a beleza é somente miragem. MISTÉRIO […]
Ler maisa Luiz Henrique Luiz Henrique, chegaste em 11 de setembro (tu não sabes, mas nesse dia o mundo parou). Nessa data o coração da América foi atingido pelo terrorismo que joga sombras em toda luz (o ódio gera o ódio e dele é escravo e senhor). Era 11 de setembro em Santiago, no Chile, quando Allende tombou solitário ao […]
Ler maisAo chegar ao Rio de Janeiro em 1951 –, o poeta Ferreira Gullar trazia um delírio iniciado na úmida São Luís do Maranhão de sobrados em azulejos e brisas ao vazio. Mas qual delírio? A luta corporal na poesia. O des man te lar da lin gua gem. Tercia um livro que não um livro, mas a vida em carne […]
Ler maisSempre tive dificuldades com os palácios: neles os meus versos tímidos, desalojados; ali a vida plástica, abstrata, asséptica, longe, longe das ruas, distância segura do povo; povo – a palavra toda oca. Pobreza, inibidor de ousadia, trago comigo: desde a infância as pombas me apavoram – sempre me souberam opacas, frias e tristes, tristes, protocolares como um relógio de ponto, […]
Ler maisSou o poeta da flor e dos espinhos: lírico, romântico, louco por Chopin; amo as crianças e os amigos do azul, os caçadores de brisa e de nuvens, por isso gosto de olhar as fragilidades com ternura e desprezar toda matéria, posto que fugaz, ignorada no eterno; e o eterno é só esse instante cintilante, que agora passou diante dos […]
Ler maisTRADUTOR DOS POETAS O cantar solitário do galo traduz a angústia e esperança dos poetas. CALENDÁRIOS Os calendários tentam confundir o tempo (…) em vão. ESPANTO DA PLACIDEZ (…) as nuvens vivem entre a placidez e o espanto (…) DELIVERY Na janela as nuvens me trazem surpresas ao correr do dia. MIRAGEM Sem simpatia a beleza é somente miragem. MISTÉRIO […]
Ler maisPrimeiro escrevi uma palavra. Qual palavra? A palavra vermelho. Aí paralisei. Congelei – Pensei na teoria literária, também na lógica. A palavra vermelho delimitou o poema, pois restringiu as expectativas do leitor – não poderei, por exemplo, invocar o girassol, posto que esse amarelo. (e ninguém entenderia um girassol vermelho). E se eu trocasse o vermelho pelo amarelo? Outras seriam […]
Ler maisGoya pintou o sombrio Aves Muertas: em que pensava ele quando o pintava? Nunca se saberá exatamente. Os críticos de arte ofertam algumas pistas: Goya, precursor da pintura contemporânea, ícone da vanguarda pictórica do século XX, ficou impactado pela Guerra Peninsular ou Guerra da Independência Espanhola (a Espanha a lutar contra Napoleão, seu antigo aliado e logo desafeto). A guerra […]
Ler maisPLENO EMPREGO NO MERCADO DA MALDADE No mundo da maldade há gente capaz de tudo e ainda sobre gente. ESPARTILHO A métrica é o espartilho do verso. A LINGUAGEM DOS OLHOS Quando adolescente ficava treinando o que dizer às mulheres. Quanta bobagem: as mulheres falam a linguagem dos olhos. AO MAR Colocar um poema na internet significa que ele cairá […]
Ler maisOuço vozes nos lugares mais insólitos (penso que é um anjo a andar comigo). Por certo um desses anjos galhofeiros, pois às vezes um tanto inconveniente: não é dado a respeitar as convenções (fala nos concertos, no meio da noite, durante as aulas, no cinema, no bar). Seria apenas um? Não tenho certeza. Por vezes parece um coral agitado – […]
Ler maisa Sebastião Moreira Duarte Na poesia, a palavra esconde a palavra mas não a emoção que dela aflora. Se digo que a manhã trouxe um perfume é possível está escondendo no perfume a palavra flor, mas não a flor que exala o ar. O poeta quer apenas comover e só dispõe das palavras para dizer o […]
Ler maisMEMÓRIAS ─ E esse olhar tão distante, até parece no passado, filho. ─ (…) o que sobre mim voa e lampeja, mãe, são memórias. EXTRAVIO Ao correr da vida perdi tempo demais com os calendários. ANTES DE JUNG O que ainda não é símbolo espera por um artista. LABIRINTO Sou o labirinto de uma existência em busca de um sentido. […]
Ler maisQuintais telúricos das manhãs de Santa Inês partida e o vento a farfalhar na memória as folhas que caíram e se perderam entre a infância e o abismo do tempo. Naquele tempo eu poderia ser pássaro ou nuvem: e fui. E o que restou, além de matéria para um poema? Onde vocês? Deutes? Nonatim? Valmir? Jean? Hélio? Ném? Valberto? Neguim? […]
Ler maisTESOURO São Luís com suas ruelas, seus becos, seus túneis, seus mirantes, seus sobrados vazios é uma cidade que esconde a si mesma. BUMBO Quando o telefone toca no meio de um verso, sinto o bumbo soar no concerto de câmara. VARIAÇÕES PARA UM TEMA A chuva é um poema épico; o chuvisco, uma sonata. JUDAS Os concubinos da rua […]
Ler maisEra uma tarde dessas raras, dessas mágicas. Era uma tarde de especial banalidade. Caminhava como sempre àquela hora de volta do caminho rotineiro da escola e a cidade era a mesma no mesmo ritmo da vida entre palmeiras, tardes e brisas. E o mar sorvia o sol suavemente num explícito beijo apaixonado: uma ponta de tristeza e lamento Em São […]
Ler maisGuardo um cheiro de mofo nos porões de minha alma: se o revelar estou arruinado, pois é o que resta da sobra do que digo ser, com que ainda pareço, o que não traí: aquilo que ainda criança voa sobre o mundo das coisas onde tudo se transmuta em beleza aos olhos de Heráclito: guardo o azul que grita entre […]
Ler mais─ Então nasceste em 9 de abril, Baudelaire?, antevendo que abril é o mais cruel dos meses, no verso antológico de T. S. Eliot. Não, não é coincidência: poetas são irmanados no destino de flamejar o humano ao mundo –, nesse desejo alucinado de encontrar a vida na carne no sangue nos ossos em tudo; vida que terminou por escapar […]
Ler maisDURANTE O AMOR Os amantes não deveriam falar durante o amor para não interromper as declarações do silêncio. INCULTA E BELA O português é uma língua dúbia, por isso quase ninguém vê encanto nos poetas. O delicioso da língua de Camões é a gente se lambuzar nos trocadilhos e picardias brasileiros. ETERNA INCOMPREENDIDA ─ (…) eu já disse mil vezes […]
Ler maisAqui me ponho diante do deserto que carrego, de tudo que dilacera a alma, dos azuis e cinzas (no papel repousa o deserto e seus oásis). Aqui desejo o infinito do ínfimo e o labirinto: a página em branco é o paraíso dos perdidos, onde a palavra mais banal volta a cintilar azul (ou pode – ao menos – ousar […]
Ler mais8 DE MARÇO Poesia tem nome de mulher: preciso dizer mais? EXERCÍCIO POÉTICO Os homens precisam, urgentemente, aprender a acariciar no escuro – como os olhos em silêncio – as almas das mulheres. ALTA INDAGAÇÃO Se as mulheres são capazes de se empoderar, por que os homens não conseguem se suavizar? EUFEMISMO Quando se diz que a mulher deve ser […]
Ler maisCATARSE Quem conversa sozinho, dificilmente enlouquece ou perde o amigo. VIDA REAL A vantagem de ser ator é que se tem uma vida real. CATEGÓRICO Não use o verbo ser para dizer a verdade: ele é muito categórico. O PORQUÊ As mulheres adoram os poetas, porque eles sabem das entrelinhas. AQUI ENTRE NÓS Queria escrever um livro de aforismos, mas […]
Ler maisa Liratelma Cerqueira Fuligem e flor de manhã azul-banal zunindo entre negócios, adultérios e juras de amor. (escorregadias e vagas as horas fluem reptícias carcomendo a vida) A vida, esta pergunta infinita e urgente para qual todas as respostas incompletas. Esse encantamento que se dilui entre ciência e filosofia – entrecortada da mais sofisticada teologia há séculos – na […]
Ler maisFOGO AMIGO Os homens não reparariam na celulite não fossem tuas amigas. PODER DA PROPAGANDA O pregador exaltava tanto o diabo que os fiéis passaram a cultuá-lo. ESTILO O escritor que não se repete não cria o estilo. ESCRAVO Quando se escreve preocupado com a crítica, a autocrítica censura tudo. INSUPORTÁVEL Não fosse a mentira, o mundo seria insuportável, porque […]
Ler maisRESULTADO DO TESTE VOCACIONAL ─ Bem, você tem um forte olhar fotográfico. ─ Será que por isso cometi o desatino de ser poeta? COR DA ESPERANÇA O alaranjado devia ser a cor da esperança: é a cor preferida da aurora. SEM ESPELHO Por séculos de guerras e tanta maldade quando lembra que fez os seres humanos à sua imagem e […]
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