FRAGILIDADE EM PAZ

                                                 a Luiz Henrique

Luiz Henrique, chegaste em 11 de setembro
(tu não sabes, mas nesse dia o mundo parou).

Nessa data o coração da América foi atingido
pelo terrorismo que joga sombras em toda luz
(o ódio gera o ódio e dele é escravo e senhor).

Era 11 de setembro em Santiago, no Chile,
quando Allende tombou solitário ao sonho
e ali se instalaram as trevas mais medonhas.

De logo saiba que o terrorismo e as ditaduras
bebem no cálice de ódio e dele se embriagam
e por ele negam o humano e esmagam a flor
a flor da liberdade tão enamorada do lúdico.

Até agora o 11 de setembro me vinha em cinza,
mas hoje veio se derramando em cintilante azul,
porque com ele vieste em brisa e sopro de paz.

E, enfim, chegaste e contigo outros irmão teus:
árabes, americanos, judeus, africanos, asiáticos
(todos contigo e todos em ti, porque humano)

E tu vieste tão somente na condição de criança:
rogo que a criança nunca se perca desse coração
(o mundo está farto do humano
e o humano divorciado do mundo).

Então não precisarás fazer discursos: basta sorrir,
sorrir ao mundo e olhar o humano com paciência:
ele é tão frágil, feito de pó e, de repente, evapora.

Não sei o que o poeta pode diante de uma criança:
no âmago da poesia só resta contemplar o singelo.

Não espere de mim um mestre, um guia, um guru.
Estou perplexo e perdido como os outros homens
(diferente deles nunca ousei formular as respostas,
sou vocacionado a reformular as antigas perguntas).

Eles buscam nas coisas o que perderam dentro de si.
Também não encontrei um sentido palpável, o mapa.

Gosto de coser o tempo olhando as nuvens devagar
(um elefante, um castelo, o erotismo, tantos espantos).
Descobri que sou um distraído cuidador de paisagens
(nas nuvens concebi o teu rosto pela primeira vez).

E, assim, logo notarás que teu pai é um homem distraído
que perde com frequência as coisas, as ideias, o discurso
(jamais conseguiu entender o mundo e seus paradigmas –
procura escrever versos, mas desconfia de sua inutilidade).

Ando rodeado de livros, pois eles conversam em silêncio
(seu uso não perturba os vizinhos
e não causa reclamações ao síndico).

Também não tenho quase nada a ensinar sobre o amor,
exceto que ele é a seiva da vida escorrendo em silencio.

Talvez a plenitude da vida seja contemplar o seu mistério:
o que faço agora diante da tua fragilidade em inteira paz.