Quintais telúricos das manhãs de Santa Inês partida
e o vento a farfalhar na memória as folhas que caíram
e se perderam entre a infância e o abismo do tempo.
Naquele tempo eu poderia ser pássaro ou nuvem: e fui.
E o que restou, além de matéria para um poema?
Onde vocês? Deutes? Nonatim? Valmir? Jean? Hélio?
Ném? Valberto? Neguim? Chiquinho? Dino? Mano?
(eras tu, Paulinho, acusado de homicídio naquele júri?)
Onde se foram?
Se foram comigo e comigo ficaram a querer voltar
para quando o tempo não existia: só o fluir do vento
entre bananeiras e o imenso azul a cobrir delírios.
Pena que não se possa viajar em busca do início:
o passado nos escapa para sempre e nunca mais.
Mas carrego alguém que não esquece aquelas manhãs,
aquele vento se dissipando pelo azul ao mundo feérico:
o menino escondido por trás das rugas e dos óculos
convive nos dias aturdidos e sofre de discreta solidão.