─ Então nasceste em 9 de abril, Baudelaire?,
antevendo que abril é o mais cruel dos meses,
no verso antológico de T. S. Eliot.
Não, não é coincidência: poetas são irmanados
no destino de flamejar o humano ao mundo –,
nesse desejo alucinado de encontrar a vida
na carne no sangue nos ossos em tudo;
vida que terminou por escapar de todos até aqui:
é nesse propósito que todos os poetas respiram.
─ Finalmente o alquimista encontrou o elixir! –,
suspiram todos que se dedicam à danação do verso:
mas a vida – apesar da sinestesia – sempre escapa
entre os dedos nos olhos ao alcance das mãos.
Não é qualquer dia que nasce um poeta assim atroz,
que expõe o mundo no espelho das contradições –:
um poeta moderno revoltado com a modernidade!
─ É muito raro, Baudelaire, mas poetas ainda nascem.
Cá entre nós: a razão de ser do poeta é a transcendência
a que se chama poesia arte canto deslumbramento flor
(ainda das flores malditas exala o cristalino desejo do belo).
Confesso que só há um único sentido no mundo: amar –
e para isso desesperadamente nasci e por essa causa vivo.
Muito a propósito, em 9 de abril também nasceu bia –
em cujos olhos de arco-íris vi o mundo todo em poesia.