Aqui me ponho diante do deserto que carrego,
de tudo que dilacera a alma, dos azuis e cinzas
(no papel repousa o deserto e seus oásis).
Aqui desejo o infinito do ínfimo e o labirinto:
a página em branco é o paraíso dos perdidos,
onde a palavra mais banal volta a cintilar azul
(ou pode – ao menos – ousar o sonho).
Nesse branco o infinito se perde em cada palavra,
mas se perde espargindo a vida toda inquieta
(e só aqui se pode flutuar na concretude do mundo).
A página em branco se entrega sem limites
e acolhe os sentimentos mais secretos
(as almas mais torturadas e sonhos pueris).
E donde se fala de coisas simples
que sabem à vida e do banal dentro do tempo,
tempo, essa invenção humana
que desagua no mistério da morte.
E nesse branco acolhedor se colhe a vida
(alucinada vida, onde? em busca de si,
dentro de um labirinto e tantos espelhos).
O branco – de repente – silencia o poeta.
Silêncio: façamos silêncio, assim infinito.
Deixemos apenas o vento varrer, devagar,
as folhas em seu sussurrar de outono;
os lagos e as manhãs solfejando o nada.
E se chegarmos além do silêncio,
além do infinito da página em branco
talvez encontremos a paz,
talvez Chopin.