Turbilhão de desejos e sonhos explodindo hormônios
construindo andaimes ao se erguer o templo ao amor.
Mas o que é o amor?,
– essa pergunta mais vexada,
mais íntima que causa rubor.
O fato inconteste: o mundo de ponta-cabeça,
num corpo que muda sem nada explicar.
E cravos e espinhas deixam o jardim
para habitar rostos assustados,
oleosos, num cheiro forte e estranho
a qualquer geometria do desejo.
As meninas se perguntam sobre os pelos
que lhe esconde o sexo,
que antes era flor em botão,
agora floresta selvagem e estranha
se perderam dela a vagina, o clitóris,
os pequenos e grandes lábios
e, ainda por cima,
se fala de trompa uterina, ovário e útero.
É verdade
que se acalmam um pouco
quando ouvem o poético monte de Vênus,
deusa grega do amor.
Cochicham com razão nos intervalos das aulas:
─ Por que os nomes científicos são tão feios e sem graça?
O mais poético que ouviram sobre os pequenos lábios
trata da possibilidade de variar do rosa ao castanho.
E uma delas se atreve comentar – com um risinho maroto:
─ (…) mas vulva é lindo, lembra uva, doce, mel.
Outra retruca:
─ Clitóris e hímen são sem nexo, não dizem nada.
A mais estudiosa do grupo arrisca esclarecer:
─ (…) hímen é nome que deriva de Hímen, deus do casamento,
ou do latim himineu que significa lacre, selo, fechadura.
─ Então a mulher é uma tapada, disse a mais gaiata do grupo.
(…) e uma algazarra enorme se ouviu no corredor.
A ruivinha, linda, com sardas delicadas não se contém:
─Alguém aqui sabe que o que é hímen complacente?
─ O que nunca se rompe, avisa a moreninha de olhos azuis
─ Quem tem hímen complacente é virgem eternamente?
Todas riem: abafadas algumas, outras celebrando a irreverência.
Certo é que ninguém entendeu sobre as glândulas de Bartholin.
E talvez por cautela o professor não tenha falado sobre
Ernest Gränfenberg e o polêmico ponto g.
Enquanto sorriem, as jovens não notam
que o estrógeno e a progesterona trabalham:
Naquela manhã envolta de juventude flanando infinita,
estrógeno e progesterona são poesia de broto mamário
sonhando com as dúvidas do primeiro sutiã.
Em diagonal, mais adiante, no mesmo corredor,
garotos olham as moças com sede de camelo:
se deliciam com formas torneadas em quadris,
seios, coxas, – num deslumbramento das formas
que as aulas de geometria não souberam despertar.
Os professores de ciência se olvidam em dizer:
os cientistas também pouco sabem sobre o amor,
por isso meninas e garotos pesquisam incessante a ciência
sonhando com o que seria o momento mágico da vida.
Enquanto os hormônios festejam os impulsos sem resposta,
o mistério revela o desejo ocultando o objeto desejado
porque
há algo que não será dito
antes do rebentar de maio
em pétalas de sexo em flor
ao desabrochar do sagrado
na comunhão do profano.