QUINTANAMARES

DEDICATÓRIA
Para Mario Quintana, não in memoriam: a morte é só a metáfora da eternidade.

A MARIO QUINTANA
Aceita, Mario, este plágio de autêntico apreço.

PARCERIA
Se eu houvesse privado com Mario Quintana faria a proposta de voltar ao Alegrete:
Vamos a tua infância: apura o ouvido aos grilos que eu seguro a lamparina.

CONTINUAÇÃO DA AULA DE FILOSFIA DE MARIO QUINTANA
Eu só te poderia dar uma noção do nada se não tivéssemos nascido. Agora é tarde, é muito tarde, minha filha… Ah, deliciosamente tarde!”
Tudo, tudo – inclusive o nada – agora é só poesia, minha querida.

OBRIGADO, QUINTANA
Não esqueci que as nuvens estão improvisando sempre, mas a culpa é do vento”, me disse Mario Quintana. E me fez notar que por trás das esculturas de nuvens, o vento carregava o piano. Coitado! Pobre do vento: os carregadores de piano são esquecidos até pelos poetas.

BIGAMIA
Perguntaram ao poeta Mario Quintana por que ele não casou. Ora bolas, porque a poesia não lhe merecia o crime de bigamia.

PÍLULAS MARIO QUINTANA
Diante do cenário atual, passei a ler os textos do Caderno H do Mario Quintana: são pílulas antidepressivas que tomo e começo a ver vejo passarinhos coloridos.

VISIONÁRIO
No caderno H, o poeta Mario Quintana se antecipou ao twitter.

CASMURRO
Ao saber que a Academia Brasileira de Letras tinha recusado Mario Quintana por três vezes, Machado de Assis ficou casmurro por dias acompanhado de um passarinho.

PARENTESCO
Mario Quintana é aparentado de Machado de Assis por parte das entrelinhas.

INICIAÇÃO
O leitor me confessou que não conseguia entender poesia. Foi quando indaguei empolgado: — Você ainda não conhece o curso do Caderno H do Mario Quintana?

FALSA HUMILDADE
Enquanto ia lendo o Caderno H – na verdade mastigando bem devagar – Mario Quintana me cochichou que o simples adora ser sofisticado se fingindo de humilde.

DIÁLOGO ENTRE POETAS
Mario, amigo, sei que estou em falta contigo.
Impossível: um poeta está sempre transbordando.

VIDENTE
O poeta é, em essência, vidente. Mario Quintana no texto Decadência e esplendor da espécie foi peremptório: “O homem, esse mascarado”. Não digo mais nada além de lembrar que estamos em 2020.

TEMA DA LIVE NO CÉU
Dom Helder Camara e Mario Quintana: santo e anjo rebeldes.

CONTRIBUIÇÃO À WIKIPÉDIA
Mario Quintana foi um importante poeta brasileiro e um dos poucos líricos do mundo que não caiu no ridículo de louvar a amada: guardou toda sua sedução à poesia.

ACELERAR E PROTELAR
Estou relendo com tanta avidez o delicioso Caderno H do Mario Quintana com aquele receio do livro acabar e sem possibilidade de protelar.

MESTRE DO MÍNIMO
Camões necessitou de um épico para se tornar famoso, já Mario Quintana só precisou dos epigramas.

A SUBLIME INTELIGÊNCIA
Tens razão, Quintana, o palavrão pelo palavrão é a arte pela arte. O que tu não sabias é que segundo uma pesquisa divulgada na internet, falar palavrão é traço da personalidade de pessoas muito inteligentes. É (…) agora é aguardar ansioso pela sutileza das obras desses gênios delicados.

ANJO FEITICEIRO
Em 30 de julho de 1906, numa noite muito fria, nasceu um menino num país tropical: ele veio com o dom estranho de acariciar as coisas com os olhos e transformar as palavras em pluma. Mesmo quando ele pôde, finalmente, se deitar de sapatos para evaporar numa nuvenzinha sesteando no azul ou acordar para dentro do sonho eterno, sempre restou a dúvida se era anjo ou feiticeiro. O mais seguro é dizer que Mario Quintana foi um anjo feiticeiro que, com a essência da gratuidade, entregava buquê de brisa ao comum dos mortais.

CONFISSÃO
Mario, bem que você me advertiu: “o pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada a ver com isso”. Retardatário que sou, por muito tempo entreguei minha alma às pessoas, que se aborreciam delicadamente. Até que percebi: só a literatura – ainda que com a exigência da estética – se interessa pelos nossos infortúnios.

AOS ORADORES DE BANQUETE
Mario sugeriu esse discurso aos oradores de banquete: “Minhas senhoras e meus senhores. Tenho dito”. Eu seria mais sucinto: “Tenho dito”.

EGO DOS CÉUS
Disse Mario Quintana: “Céus de Porto Alegre que fazer para levá-lo para o Céu”. E um poeta paraibano, retrucou: “O céu de Porto Alegre com aquela tua nuvenzinha sesteando, Mario, chega primeiro em João Pessoa, onde nasce o sol do Brasil”.

LITERATURA E VIDA LITERÁRIA
Os homens passavam alheios aos dois sujeitos no banco da praça. O velho bardo olhou demorado para o jovem Mario Quintana e lhe indagou: — O que pretendes com as letras: literatura ou vida literária? — E tem diferença? – indagou o neófito com toda ingenuidade. — Se queres literatura, vai ter com a beleza todos os dias. O jovem Mario Quintana já confuso pelo silêncio do velho bardo: — E se optar pela vida literária? –, indagou ansioso. — Precisas ir urgente ao palácio – disse peremptório. Um passarinho pousou junto aos poetas: teria sido um presságio?

DE PONTA A PONTA
Recomenda-se a leitura de Mario Quintana de ponta a ponta para quem esteja em qualquer percurso das pontas da vida.

RECOMENDAÇÃO
Pela tua amabilidade, amigo leitor, preciso fazer esta advertência: — Não deixe de ler o Caderno H do Mario Quintana no original.