Dalí, na cesta de pão, fez a partilha
(um quadro com o puro do simples):
ali recitou Cristo e o novo testamento
sem intentar rituais ou outros dogmas
(bastou um gesto terno tal o trigo
para alimentar os famintos de vida).

Dalí não invocou qualquer teologia:
a arte se fez teologia em puro objeto,
a mística da eucaristia no singelo –
pedaço de pão a explodir fraternidade
(metáfora do trabalho em alimento –
partilha do real e da transcendência):

o pão, em Dalí, não é o objeto pão,
nem só o trigo suave ou o trabalho:
é, antes, o sopro que se faz espírito
e alimenta de poesia e luz o mundo.