Em Brasília, entre a aurora e o crepúsculo,
economistas testam teorias advindas de Harvard:
mostram estatísticas, onde a fome e o desemprego
são fatores de equações complexas.

Nas teses de economia, urdidas em altos gabinetes,
o trabalhador não se desespera em filas meses a fio.

Nos cadernos de economia de todos os jornais,
não apareceu que ontem um trabalhador brasileiro,

desesperado, faminto,
parte da estatística da burocracia oficial
se enforcou diante do fogão,
– que sem funcionar pelo desemprego –
tornou-se supérfluo.

Diferente dos economistas, não posso poetizar a fome
e faço do poema um grito inútil: os economistas são exatos
e só entendem números que não gritam nem se enforcam.