BELEZA DOS VAZIOS

a Hélio Melo de Lima

De repente as coisas poderiam ter outro nome,
outra textura, cheiros e tonalidades de silêncio:
percebia o vento farfalhar em algazara no quintal
e a lua se esgueirava na cerca se mirando no poço.

O mundo (meu mundo) estava ali todo pronto,
mas sentia que bananeiras e o musgo cochicavam
como se conspirassem desejos de mudar o destino:
diante dos meus olhos a brisa se vestia de azul

e deslizava por manhãs entranhadas de dúvidas
que desaguavam em tardes sonolentas e ávidas
de qualquer coisa que não conseguia perceber:

antes da noite anunciar o mistério das estrelas
me vinha o misto de pertencimento e estranheza
– tinha vindo ao mundo para a beleza dos vazios.