a Jaqueline Alexandre

Ah!, como espanta o exegeta burocrata
ao apreciar os números que não gritam
– por ignorar o apagar de tantas vidas
e de outras que quedaram destroçadas.

No mundo da burocracia empertigada
tudo é impermeável à dor, a todo sentir:
resultado de brutal destino da natureza
em que a vida deriva da força dos fortes
(os fracos cumprem a sina de sucumbir
e por culpa exclusiva tombar no front).

Mas eu que ainda sei chorar te convoco
a celebrar a vida em toda sua fragilidade
e o ideal de transbordar sobre a lógica,
dizer que o outro é o sentido do pulsar
da vida que carece de outra vida ao lado:

e em comunhão sigamos em fiel pranto
levando nas mãos a tocha do azul rebelde,
do verde em chamas incendiando o sonho
de contagiar a vida no último filete de luz.