Naquele sábado o azul gritou tão forte
e as nuvens deixaram o céu todo livre
para as loucas acrobacias do Jacir:
o avião subia tanto até a vista perdê-lo
e eis que parecia um parafuso alucinado
a se desenroscar em todo desassossego
num
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o o
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p p
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n n
g g
inesperado, assustador, cortante e gracioso.
Enquanto suava as mãos e fechava os olhos,
os outros meninos gritavam e batiam palmas.
Ainda com muito medo voltei a olhar o céu
(com um olho fechado e o coração pela boca):
foi aqui que Jacir aprumou de novo a aeronave
e num rasante assustador retornou ao azul.
— Esse homem é doido, dizia Seu Zeza
(que disfarçadamente amassava a Bíblia).
Uma sucessão de loopings de tirar o fôlego:
o tempo parecia perplexo, suspenso no ar.
Salvo o motor do avião, tudo era silêncio
e o espetáculo ao deslumbre do menino
continuava em velocidade supersônica.
Nisso se aproximou Seu Abraão Barros:
— Que tales, amigo? O Jacir é um doido
(era gozado Seu Abraão dizer que tales).
Papai, que havia trabalhado na Real Aerovias
e tomado poucas aulas de voo em São Luís,
comentou sobre aerodinâmica e segurança
tentando tranquilizar a nervosa assistência
(que a rigor não lhe prestava atenção).
O avião fazia acrobacias na horizontal
(vários eram os parafusos sucessivos):
parecia que o avião se enroscava no ar.
Jacir parou o motor do avião e o fez cair:
— Parece que o motor parou, disseram.
Dona Benta disse que não aguentava aquilo
– e ia entrar para não ver a morte do Jacir –,
quando foi repreendida por Dona Domingas:
— E se avião cair dentro de casa, mulher?
Ao menos aqui a gente corre dele, ligeiro.
Nisso Jacir empinou o avião tal um foguete
e todos sorriram não se sabe se de D. Benta
ou do alívio de ouvir o vivo ronco do motor.
Jacir fez o último rasante antes da surpresa:
– jogar sacos de bombons no meio da rua –
tudo foi alarido na manhã ingênua de maio.