a Liratelma Cerqueira

Fuligem e flor de manhã azul-banal zunindo
entre negócios, adultérios e juras de amor.

(escorregadias e vagas
as horas fluem reptícias
carcomendo a vida)

A vida, esta pergunta infinita e urgente
para qual todas as respostas incompletas.

Esse encantamento que se dilui entre ciência e filosofia
– entrecortada da mais sofisticada teologia há séculos –
flui entre homens e mulheres no comezinho do dia
mergulhado no desejo de encontrar a felicidade, quimera,
mantra escondido num labirinto, a que se pode chamar alma.

E assim no paradoxo metafísico, busca-se a felicidade nas coisas,
no tato, no olfato, no deslumbramento do desejo mais íntimo.

O tempo – que não existe – salvo por convenção humana
nos abana na face a felicidade e com ela se afasta provocativo
e nós a seguimos anos a fio em busca desse enigma fluorescente.

Da janela de seu escritório, onde o poente suspira
– em tons alaranjados –
o provecto professor de filosofia enamorado da morte
ainda se encanta por não conseguir compreender o mundo
e desconfia com tamanha convicção própria dos céticos
que ao fim e ao cabo o sentido de tudo repousa na busca.